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sexta-feira, outubro 29, 2004

Coisas
Tantas coisas. Muitas coisas. Mais coisas do que cabem aqui dentro.
Sabe como é, eu sou pequena. Falta um pouco de espaço pra tanta coisa. Às vezes fica meio apertado, chega a doer, mas sempre dá-se um jeitinho.
As minhas coisas andam, correm, dançam, sacodem e, obviamente, flutuam. Tudo isso destrambelhadamente, porque afinal, são minhas coisas, né? Têm que ser destrambelhadas, se não não seriam minhas, oras. Elas vivem se trombando, nem sempre pedem desculpas umas às outras, essas coisas sem educação, dá cada confusão. Iiihhh... nem queiram saber.
Chega uma hora que as coisas cansam de perambular o tempo todo sem destino e resolvem se acalmar aqui dentro. Ficam num cantinho quietinhas e acabam adormecendo. Nem sempre é um sono gostoso. Às vezes o sono é um pouco agitado, sono de coisas mal resolvidas. A maioria não volta a despertar. Vez ou outra só abre o olho de leve e dá uma olhadinha em volta pra ver se tá tudo em ordem, depois adormece de novo. De vez em quando acordam, dão uma voltinha modesta, só pra desenferrujar e voltam a descansar.

O problema é quando chegam coisas novas, e elas tão sempre chegando. O tempo todo. Desastradas que só elas, coitadinhas. Não sabem direito o que fazer, pra onde ir, ficam um pouco perdidas aqui dentro. Não conseguem alcançar as coisas que tão despertas pra lá e pra cá, então acabam chegando pertinho de uma daquelas coisas adormecidas, olham um pouco desconfiadas, meio com medo, mas não resitem: cutucam! Se não der resultado, cutucam de novo e de novo, até acordar a pobre coisa que dormia tão gostoso. Não pensem que elas cutucam qualquer coisa, não. Elas escolhem a coisa certa pra despertar!
Aí tá criada a confusão. A coisa adormecida leva um susto, dá um pulo e não consegue recuperar aquele sossego. A coisa nova vem pra junto da coisa que acabou de acordar e começa a querer saber tudo, não pára de perguntar, insistir, cutucar. E assim vai. A coisa nova às vezes puxa, às vezes empurra. Sacode. Chama. Grita. Não dá sossego pra pobre coisa ainda sonolenta.

Pra onde elas vão? Não sei.
O que vai acontecer com elas? Não sei.
Talvez chegue uma coisa mais nova que consiga alcançá-las. Talvez as duas cansem. Talvez a coisa nova desista. Talvez as duas briguem e se separem.
Não sei.
Que bom seria se eu soubesse. Só posso esperar que muitas coisas novas cheguem pra cutucar essa coisa que acabou de ser acordada aqui dentro... pra ela não voltar a dormir.