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terça-feira, março 15, 2005

A chuva e eu
É muito comum ouvir as pessoas dizendo que adoram dormir escutando o barulho da chuva. Dizem que relaxa, acalma, chama o sono e sei lá mais o quê. Pra mim, nunca fez muita diferença se chovia, fazia sol, calor, frio ou o escambau enquanto eu tentava dormir. Modéstia à parte, sou muito boa nesse negócio de adormecer e dormir, dormir, dormir...
De uns tempos pra cá, não tenho conseguido dormir direito quando chove. Eu fico aflita, domoro pra pegar no sono, aquele barulhinho me incomoda.
Ontem, quando fui deitar, chovia muito. A janela do meu quarto dá pra rua e eu ouvia a chuva, os carros que passavam deixando aquele barulhinho da água, e aquilo começou a me incomodar. Já que eu não conseguia dormir mesmo, resolvi descobrir porquê aquilo não me deixava dormir. Acho que descobri.
A impressão que me dá é que a chuva tá presa em algum lugar. Ela tenta fugir, desesperada, e não consegue. Quanto mais forte é a chuva, mais eu sinto seu desespero tentando se libertar. Depois vem aquele barulhinho mais suave, parece que vai parar. É quando eu acho que vai ficar tudo bem. Mas aí a chuva aumenta de novo, o barulho fica mais forte e o desespero volta.
De repente, parece que a chuva tá correndo sem parar, em total desespero, como se fugisse de alguma coisa que a atormenta. Volta a acalmar, dando a impressão que ela se escondeu em algum lugar, exausta, querendo descansar um pouco, retomar o fôlego, e, logo em seguida, recomeça a sua fuga. E assim minha aflição vai aumentando, no ritmo da perseguição.

Isso tudo ficou tão claro pra mim ontem. Nem sei como, mas eu quase via a chuva se esconder pra tentar recuperar o fôlego. Só sei que de repente eu sabia o porquê da minha aflição.
E agora eu não vou dormir nunca mais quando estiver chovendo. Que ótimo.