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quinta-feira, agosto 31, 2006

Seu João
Meu avô era mecânico de carros. Mecânico do tempo em que carro era mecânico, não eletrônico. Mecânico do tempo em que quem entendia de mecânica consertava qualquer carro. Meu avô consertava qualquer carro.
Meu avô era filho de italianos, usava sua bengala como batuta enquanto falava, xingava à toa, ouvia o Jornal Nacional no último volume e não admitia interrupções, mas parava na frente da TV para falar qualquer bobagem quando minha avó assistia a novela das 8.
Não, meu avô não era o Seu João. Meu avô era o Seu Adolpho. Seu Adolpho do tempo em que f ainda era ph.
Seu João era o vigia noturno do lugar onde ficava a oficina do meu avô. Vigia noturno do tempo em que os vigias noturnos não dormiam durante o expediente.
Seu João era um português corpulento que falava alto, tomava sopa todas as noites, dava pão para os cachorros de rua e xingava à toa. Seu Adolpho e Seu João, gênios fortes, não se davam muito bem, mas quando o português soltava um É UM FILH’ DE UMA PUTZA QUE Ó PARIU, falando sobre o patrão, políticos, banqueiros, ou seja lá o que fosse, o italiano concordava: UM BOSTA!