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sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Enquanto isso, na Sala da Justiça...
- Ô, tia! Pode sentar aqui, tia. Vai, tia.

Depois de tantos "tia", olho pra trás. Um rapaz atlético e bonitão, elegantérrimo no seu terno escuro, dava seu lugar pra uma senhora, deixando que o resto do vagão inteiro soubesse disso.

- Não, meu filho. Pode ficar à vontade.
- Ô, tia, senta. Não faz assim, não. Sentaê, tia.
- Obrigada, meu filho.
- Quéisso, tia. Bátima que agradece...

Eu ouvi isso?
Ouvi, claro. O Bátima agradece...

- Esse vucu-vucu não é bom pra senhora, não. O metrô tá fogo, né?

Odeio "vucu-vucu", e quem fala "vucu-vucu".

- É, mas faz tempo. Você não anda de metrô, né? Pega ônibus?
- Não, eu ando no batimóvel. Mas tô tendo que usar o batimetrô hoje.

Céus, alguém me tira daqui.

- É uma tristeza, meu filho. Eu, normalmente, não sento, não, sabe? É que eu machuquei o braço e tá custando pra sarar.
- É mesmo? A tia caiu, né?
- Nãããão. Foi acidente de carro. É porque eu trabalho no hospital, sabe?
- Aaahhhh!
- Eu trabalho na ambulância...

Olhei pra trás de novo pra conferir se quem falava era a velhinha de duzentos e sete anos que eu havia visto. Era. Ela trabalha na ambulância...

- ... e teve um acidente num dos meus plantões.
- Vixe, tia! Eu vi issaê, hein! Eu trabalho de batipatrulha e vi issaê.

...ele trabalha na batipatrulha...

- É?
- Quando foi isso? Não foi no fim de dezembro?
- Não, meu filho, foi em junho.
- Isso! Junho. Confundi. Não tinha uma paciente atrás, na ambulância?
- Não, não. Tava vazio. Eu, que sempre vou atrás quando tem gente, tava na frente.
- Ah, é!
- É que teve outro acidente logo em seguida, desse jeito aí.
- ISSO! É que a batimemória já não tá funcionando direito, sabe, tia?

- Bem que podia ser a batibôca, sussurra o rapaz sentado ao meu lado.